ATA DA QUADRAGÉSIMA OITAVA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 03.12.1998.

 


Aos três dias do mês de dezembro do ano de mil novecentos e noventa e oito reuniu-se, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às quinze horas e quarenta minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear os cem anos da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, nos termos do Requerimento nº 210/98 (Processo nº 3140/98), de autoria da Mesa Diretora, por solicitação do Vereador Gerson Almeida. Compuseram a MESA: o Vereador Isaac Ainhorn, 2º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor João Jorge Diniz Barbachan, Diretor da Faculdade de Odontologia da UFRGS; o Senhor Nilton Paim, Vice-Reitor da UFRGS; o Senhor Telmo Bandeira Bertold, representante do Diretor da Faculdade de Odontologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; o Senhor Cizino Risso Rocha, Presidente do Conselho Regional de Odontologia; o Senhor Danilo Juri Reston, 2º Vice-Presidente da Associação Brasileira de Odontologia; o Coronel Irani Siqueira, representante do Comando Militar do Sul; a Senhora Solange Bercht, Vice-Diretora da Faculdade de Odontologia da UFRGS; o Vereador Reginaldo Pujol, 3º Secretário deste Legislativo. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem à execução do Hino Nacional. Em continuidade, pronunciou-se acerca da importância da presente solenidade e concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Gerson Almeida, em nome da Bancada do PT, teceu considerações acerca do significado do transcurso de cem anos de existência para uma instituição pública, analisando as dificuldades atualmente enfrentadas e a alta qualidade de ensino oferecido pela Faculdade de Odontologia da UFRGS. O Vereador Lauro Hagemann, em nome da Bancada do PPS, discorreu acerca do quadro histórico existente quando da fundação da Faculdade de Odontologia da UFRGS, salientando a importância do trabalho de pesquisa e de atualização científica realizado por essa instituição. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, registrou sua satisfação por participar da presente homenagem, integrando a comunidade porto-alegrense no agradecimento público efetuado, através deste Parlamento, a uma instituição cujos integrantes colaboram para a melhoria das condições de vida da comunidade. Em prosseguimento, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor João Jorge Diniz Barbachan que, em nome da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, agradeceu a homenagem prestada pela Casa. Após, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem à execução do Hino Rio-Grandense, agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezesseis horas e trinta minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Isaac Ainhorn e secretariados pelo Vereador Reginaldo Pujol. Do que eu, Reginaldo Pujol, 3º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Isaac Ainhorn): Damos por aberta esta Sessão Solene da Câmara Municipal de Porto Alegre que tem por objetivo prestar uma homenagem à Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, por ocasião do seu centenário. Trata-se de uma iniciativa da Mesa Diretora, mas, rigorosamente, de uma intervenção direta do Ver. Gerson Almeida, nos termos do Requerimento nº 210/98 (Proc. 3140/98).

Há um preceito regimental: cada Vereador tem direito a um determinado número de Sessões Solenes anuais. Eu estou fazendo aqui um depoimento aos senhores e como o Ver. Gerson Almeida já tinha preenchido a sua cota, solicitou os bons ofícios da Câmara Municipal para que pudesse realizar o seu objetivo e, por essa razão, consta formalmente a presença da Mesa Diretora como autora da iniciativa, mas, na realidade, a iniciativa partiu do Ver. Gerson Almeida, ilustre integrante desta Casa.

Honra-nos muito a presença do Sr. João Jorge Diniz Barbachan, Diretor da Faculdade de Odontologia da UFRGS; do Dr. Nilton Paim, Vice-Reitor da Universidade Federal, com o qual, juntamente com a Reitora Wrana, constantemente nós desenvolvemos trabalhos. É a Câmara Municipal e a Universidade Federal numa integração muito importante para a vida da Cidade, num projeto em que a Universidade sai do universo dos seus muros e transcende ao universo dos seus estabelecimentos, das suas áreas próprias e dirige-se ao conjunto da sociedade. Isso é uma vitória e um exemplo desta Universidade que acolhe faculdades centenárias.

Registro a presença do Dr. Telmo Bandeira Bertold, representante do Diretor da Faculdade de Odontologia da PUC; do Dr. Cizino Risso Rocha, Presidente do Conselho Regional de Odontologia; do Dr. Danilo Juri Reston, 2º Vice-Presidente da Associação Brasileira de Odontologia; do Cel. Irani Siqueira, uma pessoa que nos acompanha permanentemente, representante do Comando Militar do Sul junto aos Poderes Legislativos da Cidade de Porto Alegre, especialmente junto a Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul e junto a Câmara Municipal de Porto Alegre; a Dr.ª Solange Bercht, Vice-Diretora da Faculdade de Odontologia.

Nós estamos passando por um momento muito importante, algum tempo atrás realizamos aqui, por minha iniciativa, uma homenagem ao centenário da Escola de Engenharia, antes homenageamos a Decana, não sei se é a Decana, mas a mais antiga também teve registro aqui nesta Casa, que é a Faculdade de Farmácia.

Estamos hoje fazendo o registro e nos integrando às homenagens à Faculdade de Odontologia e também já estamos participando como Instituição, fizemo-nos presentes, na abertura dos trabalhos do centenário da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Portanto, são quatro grandes Faculdades. Corrige-me o Dr. Nilton Paim que também a Faculdade de Medicina teve a sua homenagem aqui nesta Casa. Então, são cinco grandes Faculdades que honram o conhecimento e o saber.

É um registro muito importante, sem demérito as outras faculdades, sobretudo pelo conhecimento que temos do trabalho que realiza a Faculdade de Odontologia da PUC, que é um trabalho extraordinário, mas, as faculdades públicas tiveram um desempenho muito grande nas avaliações realizadas pelo Governo Federal, através do Ministério da Educação e Cultura. Portanto, isso tudo é motivo de regozijo e satisfação.

Cito a presença do Ver. Reginaldo Pujol, 3º Secretário da Mesa, que representa o PFL, do Ver. Lauro Hagemann, que representa o PPS, igualmente a presença daquele que motivou este encontro pela sua iniciativa, o ilustre Ver. Gerson Almeida.

Convidamos a todos para assistirmos, em pé, à execução do Hino Nacional.

 

(É feita a execução do Hino Nacional.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Gerson Almeida está com a palavra, pela Bancada do PT.

 

O SR. GERSON ALMEIDA: Boa-tarde a todos. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) O convite é uma iniciativa da Mesa Diretora, como foi colocado pelo Ver. Isaac Ainhorn, do qual fui apenas um instrumento para que viabilizássemos, mesmo que de uma forma bastante singela e modesta, uma homenagem da Cidade de Porto Alegre, através do seu Parlamento Municipal, a Câmara de Vereadores, ao centenário da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Eu não sou egresso dos quadros da Odontologia e não tive o aprendizado específico desta Faculdade. Como ex-aluno da Universidade Federal, ingressei no final dos anos 70 e foi, na Faculdade de Odontologia, que fazíamos os encontros que marcaram toda uma geração de estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, reorganizamos a União Nacional de Estudantes e onde fizemos também muitas festas.

Coincidentemente, um grupo de muitos ex-alunos da Universidade Federal, de várias Faculdades, meus contemporâneos da Universidade, estão organizando um reencontro e nós gostaríamos que fosse na Faculdade de Odontologia, mas parece que ela não está mais aberta para esses fins. Então, teremos que nos transferir para um outro recinto da Universidade. Todos nós agora, certamente, com vários anos a mais, com muitas histórias de vida de lá para cá, com um carinho e um reconhecimento da Universidade Pública Federal do nosso Estado, que é certamente marcante e que vai, indelevelmente, ficar marcada pelo conjunto das nossas vidas. Qualquer instituição pública que complete 100 anos é um fato relevante em nosso País, especialmente neste momento em que as instituições públicas passam por momentos de dificuldades, talvez, “sui generis”. Dificuldades que não são novas, porque a construção de universidades públicas e de instituições públicas são sempre um ato de duro empenho que só pode ser realizado e concretizado com sucesso por pessoas abnegadas e apaixonadas, e a Faculdade de Odontologia não foge a essa regra.

O livro que é uma das partes integrantes, Ver. Isaac Ainhorn, das comemorações e que registra uma boa parte da experiência desses 100 anos, demonstra o quanto foi difícil. A Faculdade, inclusive, teve que interromper as suas atividades durante um período da sua existência, retomando, aproximadamente, uma década depois. Portanto, só isso já demonstra que a sua construção é um ato de abnegação e de dedicação de centenas de pessoas ao longo de todo esse tempo. Portanto, o momento em que completa o seu centenário é o de afirmação desta história e de homenagem a essas pessoas, a maioria delas anônimas, que deixaram boa parte da sua vida, do seu trabalho, da sua inteligência dedicada à construção desta Faculdade que hoje é reconhecida como uma excelência no ensino de Odontologia no País.

Um dado que não é desconhecido dos Senhores e Senhoras aqui presentes, a própria CAPES deu grau 4, numa escala que vai até 5, para a pós-graduação da Faculdade, o que a coloca no mesmo patamar da Odontologia da USP, reconhecida como uma das faculdades de ponta na área da Odontologia. Isso é um orgulho para nós e mais um dos tantos motivos que nos dão prazer, mesmo de uma forma muito singela, como a que estamos fazendo agora, de registrar este evento.

Eu não quero incomodá-los com uma preleção cansativa, mas apenas agregar, pelo menos, mais um bom motivo para que nós, da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, façamos esta homenagem. Assim como a construção e afirmação da Faculdade de Odontologia é o resultado da abnegação e do trabalho apaixonado de muitas pessoas, eu não tenho dúvida que a continuidade da excelência do seu trabalho, não só da Odontologia, mas da universidade pública no nosso País, ela também vai exigir a abnegação e a mesma paixão de todos aqueles que são contemporâneos desta Escola. Eu diria mais ainda, de pessoas que nem sabem o endereço da Faculdade de Odontologia e que não têm qualquer vínculo pessoal com ela, porque, como universidade pública, ela é um resultado do esforço do conjunto da sociedade do Rio Grande do Sul, e brasileira que quer, sem dúvida nenhuma, continuar contando com a utopia e lutando para construir uma possibilidade de se ter acesso universal a um ensino público, a um ensino de qualidade que possa, de fato, fazer com que as instituições de ensino cumpram o seu principal papel social que é universalizar o conhecimento e a sabedoria.

Não há nenhuma dúvida que esse é um momento de afirmação, de parte da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, de forma humilde, é verdade, mas decidida a ombrear, estar junto com todos aqueles que, dentro ou fora da universidade, lutam para que ela possa superar, resistir e enfrentar, de forma bastante forte, todo esse processo de desmonte, vamos dizer assim, de sucatamento que as instituições públicas de um modo geral e as universidades em particular têm sofrido. Não há possibilidade de futuro adequado e visão de sociedade socialmente justa que não afirme a possibilidade de acesso aos bancos escolares de um ensino de qualidade e que possa ser universalizado. Esse é um depoimento e um compromisso afirmado.

Eu tive a oportunidade de, como Secretário Municipal de Meio Ambiente no Governo Tarso Genro, em Porto Alegre, ter conseguido junto com o Prof. Paim, a Profa. Wrana, o Prof. Elgio e tantos outros dirigentes qualificados e responsáveis que essa Universidade tem tido ao longo de toda a sua história, de viabilizar inúmeros convênios que permitiram uma produção de conhecimento fundamental para que nós possamos realizar uma boa gestão pública na Cidade de Porto Alegre. Como parlamentares temos acesso a dados, a informações e a um conhecimento que é fundamental para que nós possamos qualificar a nossa intervenção de parlamentares, de administradores e de organizadores do presente e do futuro da nossa Cidade.

Acabamos de editar o Atlas Ambiental de Porto Alegre, uma peça única, significativa, que só foi possível pelo esforço de mais de 140 doutores, mestres, alunos, funcionários da Universidade Federal, associados com a Prefeitura de Porto Alegre e com outras instituições como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e que nos brindou com um dos trabalhos de grande excelência e uma obra fundamental para pensar e conceber a organização de uma cidade com qualidade de vida.

Outro fato a registrar é que, há muitos anos, a Faculdade de Odontologia mantém um ambulatório que presta atendimento gratuito àquelas pessoas que, de outra forma, não teriam acesso a uma saúde bucal, a um atendimento como o que é dado. Há também os cursos de extensão nos acampamentos em Viamão, dos trabalhadores rurais sem-terra ou em Charqueadas, a Universidade, em tantos outros trabalhos, está presente, demonstrando seu compromisso com a coisa pública, com a sociedade, com aqueles que, em última instância, são a sua razão de ser.

Eu agradeço a atenção e fico muito lisonjeado de ter sido atendido pela Mesa nessa solicitação. Acho que é uma homenagem, repito, singela, mas necessária e que muito honra a Câmara de Vereadores de Porto Alegre. Assim como os abnegados que, há 100 anos, vêm construindo essa Universidade, hoje nós temos, nos herdeiros dessa causa, dessa luta, dessa paixão pelo ensino, tanta abnegação e tanta paixão que eles serão capazes de construir, daqui para frente, um ensino ainda de maior excelência e muito mais amplo do que o que já é colocado. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Lauro Hagemann está com a palavra, pela Bancada do PPS.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: (Saúda os integrantes da Mesa e demais presentes.) Eu trago uma breve saudação do PPS aos 100 anos da Faculdade. Devo lembrar que ela foi constituída há 100 anos, num período histórico muito interessante para a vida deste Estado. Um final de século em que as atividades científicas estavam engatinhando entre nós, um Estado de tradição guerreira que não queria saber muito de cultivo da inteligência, preferia o cultivo das armas. Sem demérito, porque, sem isso, nós não teríamos sido Brasil, mas num período em que o positivismo também atuava decisivamente entre nós e tinha concepções distintas das que nós temos hoje, em termos de ensino e de exercício profissional.

A Odontologia, como um ramo da Medicina, da Farmácia, das Biologias se impôs nesses 100 anos e hoje nós temos aqui a grata satisfação de comemorar 100 anos de uma atividade profícua em benefício da coletividade, integrando uma Universidade que é nacionalmente reconhecida pela excelência dos seus cursos, do tratamento da sociedade e isso deixa a nós, porto-alegrenses, muito satisfeitos.

A razão da homenagem desta Casa que representa o povo da Cidade àquela que é uma das medalhas da nossa constelação universitária, afinal de contas, a Universidade começou aqui em Porto Alegre, antiga Universidade de Porto Alegre. Só agora, há 50 anos, é que se mudou a designação. Eu como aluno fazia parte da Federação dos Estudantes da Universidade de Porto Alegre, a famosa e conhecida FEUPA, cujo último Presidente foi um ilustre Reitor da Universidade, Prof. Twickson Dick. Em 1952, nós mudamos de FEUPA para FEURGS, Federação dos Estudantes da Universidade do Rio Grande do Sul, cujo primeiro Presidente foi um médico ilustre Milton José Casagrande, já falecido. O último Presidente da FEUPA ainda está vivo, Prof. Twickson Dick. Então, essas histórias nos remetem a um passado não tão distante, mas que muita gente desconhece, é preciso que a nossa mocidade universitária tenha consciência de que nós passamos por isso. Esses 100 anos da Odontologia fazem parte desta história e nós temos que valorizar esse trabalho.

A minha saudação é breve, desejando que a Faculdade de Odontologia continue trilhando o seu caminho, porque é na universidade pública, na minha concepção, que a capacidade de exercício dessas ciências e das novidades que o mundo oferece, que a ciência e a tecnologia oferecem para a sociedade, que essas experiências podem se desenvolver com mais independência e, sobretudo, com mais proficiência. Está provado que é na universidade pública que a pesquisa tem prosperado com mais intensidade. Não é demérito às outras universidades, mas é uma visão diferente que nós temos do papel do Estado nessa atividade. Cumprimentos a Faculdade de Odontologia pela passagem dos seus 100 anos e que nós possamos continuar registrando, periodicamente, os avanços no campo da ciência. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra, pela Bancada do PFL.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: (Saúda os integrantes da Mesa e demais presentes.) É com satisfação que, na dupla condição, de integrante da Mesa Diretora, que promove esse ato de registro do transcurso dos 100 anos da Faculdade de Odontologia da UFRGS, que eu partilho desta homenagem, e na condição de Líder do Partido da Frente Liberal, com assento nesta Casa, junto com nove outras representações político-partidárias, duas das quais já se fizeram ouvir com muito brilho, pelos seus representantes. O Ver. Lauro Hagemann, que é nosso decano neste Legislativo, com muita propriedade provoca uma positiva regressão ao passado, quando a gente se assenhora de algumas características do mundo em que se insere a realidade a qual a gente procura gizar nessas ocasiões. Por mais esforço que ele fizesse, eu não poderia chegar às origens, propriamente ditas, da Faculdade, mas, com o conhecimento que tem de homem letrado, bem sabe o momento, as condições em que, na virada do século, se instalava no Rio Grande essa modelar Instituição Educacional, cujo prestígio tem, ao longo do tempo, se firmado e cujas conseqüências práticas são por todos decantadas e reconhecidas.

É evidente que, nesta mesma linha em que a nostalgia, o sentimentalismo e o reconhecimento se misturam, eu volto um pouco no tempo. Eu que não sou filho de Porto Alegre, não sou egresso da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, eis que toda a minha vida acadêmica foi na Pontifícia Universidade Católica. Recordo lá pelos idos de 1953, lá se vão muito tempo, quando junto com outros colegas me desloquei da minha Quaraí para Porto Alegre, porque só aqui havia um curso superior que nos permitisse ingressar no conjunto da sociedade com a perspectiva de sermos úteis não só para o coletivo, mas para aqueles que tinham gerado essa oportunidade, que eram os nossos grupos familiares. Lembro que éramos um grupo de cinco ou seis, era bastante heterogêneo e um deles veio com a finalidade específica de se transformar em doutor em Odontologia. Em Quaraí, nós sabíamos que não existia odontólogo, era uma figura nova para nós, conhecíamos o dentista, a maioria deles práticos licenciados. A maioria deles figuras meio diabólicas para a Cidade, porque as condições pelas quais a Odontologia se exercia num momento e naquela distante cidade era extremamente precária e o sofrimento que nós todos passávamos na cadeira do dentista já foram motivos, inclusive, de prosa e verso na literatura do Rio Grande.

Sob um determinado aspecto, deu-nos uma grande frustração, porque desenvolvendo, ao mesmo tempo, a Odontologia, na qual se graduou, com grande destaque, e aquilo que já era iniciado, a música erudita, como excepcional pianista que é,  hoje o mundo o reconhece, no meu conterrâneo e Cidadão de Porto Alegre, um grande pianista do mundo. Tendo o mesmo sido furtado da Odontologia, onde ele haveria de, representando um grupo de amigos, que cheio de sonhos, chegaram aqui, no início dos anos 50, na Cidade de Porto Alegre. Evidentemente, Quaraí não deixa de passar uma segunda oportunidade e um dos irmãos mais jovens, o Antoninho, haveria de, com dois ou três anos de posteridade, penso que não mais na UFRGS e, sim, na PUC, ter-se graduado em Odontologia. E aí, já convivendo comigo e com os outros que haviam sido rechaçados no vestibular da Universidade Federal ou tinham feito a opção, consciente que eu fiz, para promover minha primeira formação acadêmica na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

De qualquer sorte, todas essas referências que nós fizemos até com um pouco de nostalgia, porque tudo isso nos lembra de coisas que ocorreram no passado e que servem para assinalar a importância que teve na mudança do perfil da sociedade gaúcha a Entidade que hoje homenageamos.

Hoje, reconhecidamente, o Rio Grande apresenta índices de qualidade de vida que são reconhecidos pelos mais insuspeitos organismos internacionais. E, nesses índices reconhecidos, a atuação do odontólogo, da pretensão da saúde bucal, nessa melhoria da qualidade de vida e nessa melhoria do ambiente higiênico, em geral, em que se insere a moderna sociedade gaúcha. Não tenham dúvidas, Senhores homenageados, de que a importância do ensino da Odontologia no Rio Grande do Sul tem uma expressão das mais significativas.

Confessada a nossa origem, posso dizer a todos que bem posso aquilatar dessa importância. Eu não tenho vergonha nenhuma de dizer que acho que, aos 14 anos de idade, eu fui ser esclarecido da importância da escova de dentes. Uma vez que, naquela época, isso parecia até um certo pedantismo daqueles moços que, vindos da cidade, traziam um instrumento um tanto diferenciado, isso quase em exibimentos buscavam, num ato que era tido como rebuscado, praticar um hábito que não era comum naqueles tempos, nos perdidos campos da minha Quaraí.

Então, eu sei da importância que teve na mudança do comportamento gaúcho, gente de determinados hábitos que a visão espartana até transformava, não tanto coerente, com decantado machismo do Rio Grande, que esses hábitos mínimos - que hoje são corriqueiros -, realizados até espontaneamente pelos meninos, desde os primeiros dias de sua existência e que, pacientemente, pedagogicamente eram identificados como os algozes da cadeira de dentista, foram transferidos para a comunidade. É evidente que a nossa Faculdade de Odontologia é pioneira de tudo isso.

Sem querer me alongar e até porque o protocolo, nessas circunstâncias, não nos permite devaneios tão amplos como o que estou produzindo, deixando correr livremente o meu pensamento, desejo, em nome do meu Partido e como integrante da Mesa Diretora desta Casa, ressaltar a alegria que todos nós somos portadores, nesta hora, de podermos de forma objetiva, sem pompas, sem honrarias exageradas, mas como o reconhecimento devido acentuar, no dia de hoje, o registro do Legislativo da Cidade, os nossos louros,  nossos agradecimentos e, sobretudo, o nosso reconhecimento da importância da nossa Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, quando ela completa 100 anos de eficiente, dedicado, fecundo e conseqüente trabalho pela sociedade do Rio Grande do Sul. Que aquela agulhinha mágica, que é o tumulto de todos nós e que é algo que a ciência odontológica ainda não conseguiu superar e que esperamos que as inovações que hoje se anunciam, efetivamente venha substituí-lo, é um símbolo de algo que muitas vezes tem que ocorrer na vida social. Às vezes, é preciso que se provoque uma dor para evitar que ela se alastre. A dorzinha do nervo morto era a garantia da tranqüilidade futura. Às vezes, até no tecido social, alguns nervos precisam ser extirpados para que o tecido social, como  conjunto, possa viver mais fortalecido, mais consistente e, sobretudo, mais dinâmico.

Meus cumprimentos pela eficiência de todos aqueles que se dedicam a esse ramo tão efetivo da ciência e que tem obtido grande mérito nos últimos 100 anos. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Quando os senhores tiverem acesso ao levantamento das notas taquigráficas deste evento singelo, como diz o Ver. Gerson Almeida, mas extremamente significativo, poderão ver que estamos fazendo uma verdadeira sociologia da odontologia, com observações e reflexões.

Nós nos emocionamos vendo nomes na obra dos 100 anos da Faculdade, a primeira observação é que, na 5ª turma, começa a aparecer as mulheres odontólogas. E os nomes ilustres? Eu pude observar o nome do irmão do Presidente Getúlio Vargas, o odontólogo Spártaco Dorneles Vargas. Eu observava também aqui, deve ser o pai do Coronel Irani, do 3º Exército, ainda não se chamava Comando Militar do Sul. Eu registro aqui o nome de um formando, em 1911, que certamente não foi o Comandante do 3º Exército, deve ter sido o pai, Justino Alves Bastos.

Eu cheguei a conhecer o Sr. Justino Alves Bastos, quando eu entrei na preparatória, ele estava na ativa ainda.

Para se formar em 1911, deve ser o pai dele. Há a lembrança ilustre de um odontólogo, do Bairro Bom Fim, formado em 1937, já falecido, era meu vizinho, morávamos no mesmo sobrado, na Av. Osvaldo Aranha, o Dr. David Malinsk. Poderíamos arrolar aqui tantos outros nomes que vamos juntando. Há pouco, eu vi o organizador, o meu dentista, eu era menino e ele já era um moço feito, foi o odontólogo que realizou o último Congresso, está registrado na obra, Dr. Flávio Augusto de Oliveira, professor da PUC, gremista destacado. Essa relação com o profissional da Odontologia é muito emocional. O odontólogo, em primeiro lugar, tem de usar de muita psicologia, é um personagem que nos acalma para depois poder trabalhar. Eu me lembro de uma figura que foi meu dentista e também muito ilustre, o Dr. José Fontoura Moraes, falecido e que, certamente, era conhecido dos senhores.

É um orgulho para o Legislativo Municipal fazer essas digressões e de ver a qualificação técnica, os congressos e encontros realizados pelas nossas faculdades, pelos nossos estabelecimentos de ensino e o avanço do que representa a Odontologia, não só aquela fundamental que hoje procura eliminar completamente a cárie e outras questões, porque um dia vamos erradicar por completo deste Estado, para melhorar mais ainda a qualidade de vida, mas as questões restauradoras que se constituem nas mãos dos senhores em verdadeiras obras de artes.

O Dr. João Jorge Diniz  Barbachan, Diretor da nossa Centenária Faculdade, está com a palavra.

 

O SR. JOÃO JORGE DINIZ BARBACHAN: (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) A homenagem pode ser singela, mas foi uma homenagem muito fraterna, muito amiga. E, para que eu não esqueça de alguma coisa, peço licença para ler o meu improviso:

“A base partidária, no atual modelo político, está assentada nas diversas Câmaras de Vereadores, nos diferentes Municípios do Brasil, pelo simples fato de que são os Vereadores os responsáveis diretos, tanto para ouvir como para consultar as aspirações populares.

É com base nesse fato, Srs. Vereadores de Porto Alegre, que sentimos um imenso orgulho desta homenagem à Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Nós sentimos a presença direta da população com essa Instituição Centenária que, apesar dos dias difíceis que atravessa, continua com o mesmo espírito de luta de quando foi criada, há 100 anos atrás.

O ensino da Odontologia nasceu entre nós como curso anexo à Faculdade de Medicina e de Farmácia, em 10 de outubro de 1898, data em que foi aprovada a proposta de sua criação, apresentada pelo cirurgião dentista Henrique Ridel, em oposição à Constituição Estadual de 1891 que, em seu artigo nº 72, amparava a liberdade profissional ou prático livre.

Hoje, a Faculdade é responsável pela formação de mão-de-obra altamente qualificada para servir a comunidade, feito possível graças às habilidades desenvolvidas em nossa Faculdade e que constituem a sua essência, quais sejam ensino, pesquisa e extensão.

Tais fatos fazem com que sintamos a responsabilidade de uma cultura centenária, pois o saber acumulado, ao longo deste século, é nosso patrimônio, colocado, quotidianamente, à disposição de nossos alunos que, por sua vez, o repassarão à comunidade.

Ainda que seja uma instituição centenária, a Faculdade de Odontologia da UFRGS é uma jovem instituição, pois suas instalações físicas são compatíveis com os dias atuais e suas atividades respaldadas pelos mais recentes progressos nos campos da ciência e tecnologia.

Essas conquistas, ao longo do tempo, devem ser atribuídas aos segmentos que compõem a Faculdade de Odontologia da UFRGS, seu corpo docente, discente e aos técnicos administrativos, conquistas obtidas a duras penas e, muitas vezes, mediantes sacrifícios pessoais.

Esse histórico de lutas fornece a força incessante para manter vivo o ideal do ensino público de qualidade e gratuito, repudiar as intenções de sucatamento das Universidades Federais que, fatalmente, comprometerão o futuro do ensino neste País.  A estratégia do atual governo, intransigente e autoritário, deve ser combatida com o apoio de toda a sociedade, a fim de que não permitamos que todo o saber acumulado seja perdido.

O espírito de luta deixado por nossos fundadores continua vivo em nós e é o que respalda nossa tarefa de mantermos uma universidade pública, federal com um ensino de qualidade, porque temos obrigação em garantir o futuro e respeitar o passado. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Em nome da Câmara Municipal de Porto Alegre, dos trinta e três Vereadores, que integram esta Casa, dos Vereadores, presentes, Reginaldo Pujol, Lauro Hagemann, Gerson Almeida e da Mesa Diretora desta Casa, a qual, neste momento, eu represento, na qualidade de um dos seus Vice-Presidentes, gostaria de agradecer o comparecimento de todos os Senhores odontólogos, representantes da nossa Faculdade, bem como do Diretor da Faculdade de Odontologia da PUC; nosso Presidente do Conselho Regional de Odontologia; do nosso ilustre Vice-Reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Dr. Nilton Paim; Dr. Siqueira; demais representantes dessa Instituição, professores e Srs. funcionários aqui presentes.

Convidamos a todos para assistirmos, em pé, à execução do Hino Rio-Grandense.

 

(É executado o Hino Rio-Grandense.)

 

Agradecendo a presença de todos, damos por encerrados os trabalhos desta Sessão Solene. Muito obrigado.

 

(Encerra-se a Sessão às 16h30min.)

 

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